domingo, 5 de abril de 2009

Prêmio recebido pelo romance " A Menina da Lancheirinha"


NOVELÓRIO

Eles se conheceram num velório, não é lá um lugar ideal para estrear um romance, mas enfim assim quis o destino, ele apaixonou-se a primeira vista, suas almas perceberem-se unas.
Ele levava flores para ela todas as semanas, sonhavam-se entre nuvens e castelos medievais, eram reis, camponeses, lobos, personagens de gibis e desenhos animados. Vagavam noite adentro embalados por mil fantasias, trocavam histórias, cada um ao seu modo. Ele levou os pais para conhecê-la, os pais dela fizeram questão de conhecê-lo, a primeira vista tudo parecia um pouco exagerado e insólito, depois as famílias se acostumaram e deixaram o namoro prosseguir sem diásporas.
Nunca se separaram, “Coisas de vidas passadas” - ele falava docemente para ela, ajoelhado no cemitério acariciando sua lápide florida.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

claridade

claridade
sol nascente
eu você
de mãos dadas numa estrada
de repente
bifurcação
sem mão dadas
apenas eu
sol poente
escuridão

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Via Crucis

Seguro com as mãos, paredes invertidas,
pervertidas pelo mofo gerado entre os tijolos
da minha própria vida...

Ah! Tijolos de tal olaria!
Dela veio o barro ordinário, em mim posto
Imposto com larvas, mescladas com a lama.
Que não me queria...

Fui assim feita em patamares grudados com lodo
Sumariamente cerzidos tortos
Construídos como se constroem as lápides profundas
Cuja forma não importa,
pois suposto é, que nada vêem,
insetos, vermes e mortos....

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Póspacto




Um dia devo ter feito alguma aposta com o demo e perdi, essa minha mania de achar que sempre vou ganhar às vezes me deixa na mão, e deixou.
E como todas as coisas ‘mito-lógicas’ substanciais se escondem por trás da ‘imemória’; esqueci.
Lembrei num espasmo inconsciente desses que baixam ou sobem até nosso entendimento por um cordão prata e lilás que posto tais cores de lado; é também nosso acesso intangível ao mundo dos Deuses constelados.
Foi numa paisagem árida que vi a mim mesma entregando à besta fera o último alforje de moedas para dizimar minhas pendências infernais.E entreguei para o dissabor da criatura nitidamente descrente da minha autocomiseração.
Ainda vai tentar por dados na mesa outra vez, iludir minhas mazelas com novas tentações, vai colocar o néctar e a Ambrósia numa bandeja de ouro e servir-me disfarçado de taverneiro caridoso no meu caminho de volta. Jamais me deixará em paz; desafia-lo uma vez é para seu cerne, pacto perpétuo. Não ligo...
Já sei ver suas marcas nas cerejeiras e nos grãos de areia, percebo sua ira no vento e tiro dela forças para tornar meus passos mais leves.
Levarei comigo a obrigatoriedade da observação dilatada, afio como espada, todos meus sentidos.
Só me resta dizer a meu imortal perseguidor:
-Obrigada.
"Bom seria que todos tivessem dois olhos vermelhos sempre a espreita..."

sábado, 1 de dezembro de 2007

Ponte Pencil

Existem dois penhascos altos
Separados por um rio
Une-os uma ponte pencil
Feita com tênue fio
Atravesso
Pois nesse momento cortante
Caminhar é tudo que posso
Economizo perigos, calada
Minha vista alcança
Minha espada que descansa
No verde vale do outro lado
Um vento gelado pergunta:
-Onde você quer estar?
Olho pra dentro de mim
E prossigo devagar
Sem saber se vou morrer
Ou chegar...


Como me perdi tanto? Como vim parar aqui?

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Te Navego como a um Rio



Te navego como a um rio
Minha língua; uma jangada
Não há porto nem parada
Deslizo por teu rosto, misturando nossas águas
Sua boca uma cascata
Onde me atiro sem leme
E esse encontro faz tremer
Milhas e milhas abaixo.
Me encaixo.
As horas de tempestade
Te fazem aos poucos riacho
Nele, línguas serpentes se acham.
Sem pressa me afogo
No afago dessa torrente
Quente.
Teu pescoço uma ponte
Que percorro calmamente
Minha boca se dissolve
Em cada pegada molhada
Te beijo, te mordo, te aperto
Tentando engolir a explosão
Agora não!
Pelas ondas dos teus ombros, me assombro.
Incontroláveis gemidos caem como granizo
Gelando meu corpo inteiro
Mais!
No levante deste rio encontro enfim os teus seios
Tornados perfeitos
Me sugam, me destroem
Tonta, me entrego a eles
Os sugo, os destruo!
Língua, dentes, sussurros...
Sou deles
O tempo agora é ninguém
Mas tua Correnteza me leva
Além...
Na calmaria do teu ventre
Não sou mais eu
Estou ausente
Viro um ser de outro plano
Me embriago
Entre tuas pernas naufrago
Morta, me sinto mais viva...
Mordo, me sirvo, me salvo.
Te sinto, te sirvo, te caço
Te amo, te laço, te mato
Choro quando sinto teu gozo
Gozo quando ouço teu choro
Renasço...
E faço o caminho de volta
Sonhando com meu rio sinuoso
E seus inúmeros braços...





sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Meu Estribilho

Foi a terra que tremeu?
Não amor, fui eu!
O dia escureceu?
Não amor, fui eu...
O sol perdeu o brilho?
Não amor
O sol sem brilho
É só meu estribilho

Sol sem brilho
Sol sem brilho

A primavera desandou?
Não amor, meu inverno a matou.
O céu perdeu o azul?
Não, esse é o reflexo de minh’alma!
Mil matizes de cinza
Mil cinzas sem calma
Que giram como moscas
Sobre a carne putrefata
Da menina que mamou
Seu farto leite de fada
E morreu do veneno posto
Que sempre serve ao gosto
De quem pensa ser amada...

Um Vulto Teu





Dentro dos meus olhos
Habita um vulto teu
Embaçado pelo tempo
Impune
Ao esquecimento

Dentro dos meus olhos
Existe um livro teu;
Poesias, desenhos e prosas
Nele vejo e revejo
Histórias que foram nossas

Dentro dos meus olhos
Há uma lagoa em teu nome
Nela jazem afogadas lembranças
Pinturas borradas
Pela desesperança

Dentro dos meus olhos
Habita um vulto teu
Dos teus traços, uma escultura.
E a cegueira eterna
Que nasceu da falta tua
Dos abraços, noites, beijos...

Do nada que enxergo agora;
Somente a ti, vejo...


quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Internos Diários

O caldo quente que jorra
Do vesgo dos meus olhos
Neste lamento
Tu não vês agora,
Estão cá dentro.
Jorram ao contrário
Molhando minhas entranhas
E internos diários...

sábado, 15 de setembro de 2007

Passos



Quando nasci
Puseram fios em minhas mãos
Pés, cabeça, costas, boca
Vestiram-me com certa roupa
No palco dei os primeiros passos

Passos valentes, passos em falso...

Tantas vezes recebi aplausos
Quantas me quebrei inteira
Na queda direta
Seqüelas perpétuas
Do cadafalso

Passos valentes, passos em falso...

Um dia meus fios caíram
Percebi certa autonomia
Andava, falava e ainda caia...
O palco deixou de ser moradia
Ia e vinha...

Passos valentes, passos em falso...

Enfim conheci a morte
Senhora soturna, belíssimo porte
Aprendi que sou igual a você
Você também tem fios
Glórias, desafios...

Passos valentes, passos em falso...

A vida é o palco de gozo e horrores
Vaias, aplausos,
Cadafalsos, abraços.
O palco é a vida...
E a vida é feita de passos

Passos valentes, passos em falso...

Por isso jamais
Desmarque algum ato
Desse espetáculo;
Cavalo de carrossel
Boca de tubarão...

Passos valentes, passos em falso...
Que passarão...

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Noturna

Eu plantei sementes de poesia
Virou árvore frondosa
Frutas de poemas
Flores de prosas

Lenhador veio e cortou
Frases se espalharam na terra
Algumas morreram sem seiva
Outras morreram por medo
A maioria na queda

Sobrou um grupo de letras
Desoladas pela dor
Justo as letras que estavam
Nas poesias de amor

Fizeram buraco na terra
Viraram raízes eternas

Hoje meus versos confusos
Habitam no fundo
Sempre noturno
Do inverso do mundo


sábado, 25 de agosto de 2007

Sina

Nasci assim, sangrando...
Prossegui rastejando
Mordendo dedos foi como cresci
Os meus, os seus...dedos
Comendo o que estivesse no chão
Gritando muda
Dentro da escuridão
Alma encaixou-se
Meio violentada
Jamais, jamais!
Bem acomodada

Então não me irrite
Quando me jogo nos abismos
Quando sangro meu corpo
Quando busco a dor
Em qualquer estrada
E me lanço
Em qualquer viagem...

Nasci assim sangrando
E não me endireitaram
Jamais deixarei
De ser
Um ser
Selvagem...


quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Cegueira


Não consigo
Ficar sem respostas
É como ouvir o passaredo
Com venda nos olhos...

Busco respostas,
Assim...
Quando não consigo alcançar
No mundo aqui fora;
Dentro de mim...
Então vem a gangue
Dos profetas que moram nas tendas
Os que entraram há milênios
Pela tão falada fenda

Ouça!
Agora mesmo estão trabalhando
Sufistas, ciganos
Mestres africanos
Pajés, xamãs, sacerdotes
Dervixes, druidas, mães-de-santo
Médiuns de todos os cantos

Nada
Mente em branco...
Não acham a resposta
Morro um pouco na alma
Não há calma
Sem respostas
Não há vida
Sobrevivo
Andando sobre espinhos
E folhas mortas

Dez motivos para amar-te


Tenho dez motivos para amar-te
Teu jeito de menina mulher
Tua pose de quem sabe o que quer
Tua majestade sem coroa
Tua mania de rir a toa
Tua beleza de “lagoa azul”
Teu corpo nu
Teu ritmo de poema
Tua mente de Palas Athena
Teus olhos de mar
Tua forma de me olhar

E tudo isso se eu perder
Para alguém, em alguma parte...
Será o único motivo que terei
Para matar-te...


Heloisa Scorpio Galvez

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Letras Mortas



Transito

Entre palavras

Atropelo sílabas nas faixas brancas

Sei que sempre passo no farol vermelho

Esmago frases nos pneus traseiros

Buzino entre estrofes

Descabelo as mais esnobes

Vou sem freio pelo verso

Atravessando letras mortas

Na ré do caminho inverso

O mapa desse caminho

É uma aberração literária

Não me coloque no meio

De um soneto severo

Me desespero...

Regras são o côncavo do meu convexo

Meus olhos não têm acesso...

domingo, 12 de agosto de 2007

Malabarista

Ah se ela me visse cá embaixo
Será que sentiria a aflição?
Não!
Quando seus pés agarram a corda
Deve pensar só no caminho
O destino seguro do outro lado
Onde a esperam mascarados
Será que sabe que estou aqui toda noite?
Olhando ao alto com devoção?
Sentindo meu corpo elevar-se
E transformar-se no bastão
Que leva nas mãos?

Não!

Mal sabe que existo na platéia
Mal sabe que saio
Quando seu numero acaba
Ah! Mas sou eu o bastão
Que leva nas mãos
Como fiel escudeiro
Onde ela estiver, aonde for!
Sigo atrás como um fantasma
Mundo inteiro...
Qualquer paradeiro
Sou dela miasma...

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Sempre a Fenda!

Pensamentos tantos
Antes fosse um
Apenas um caminho
E que fosse comum
Um
Um!

Meus pensamentos
São hermafroditas
Procriam-se por conta própria
Não há portas que os prendam
Super-heróis que os rendam

Ai a fenda
Mal-bem dita
Fenda
Me mata, me fascina
Não há mesmice
Nem descanso

Vem!
Ponha a mão em minha testa!
Veja porquê sou louca
Não!
Não teste!
Basta duvidar
Ela vai te sugar!

Vagará eternamente
Pelo planeta sem fim
Que há dentro de mim...

Quer?

domingo, 5 de agosto de 2007

Deuses Constelados - poesias do 1711




Deuses Constelados- poesias do 1711


Na segunda você acorda e ainda é lua,
Gira e rodopia pela cama,
Ainda sonha e anda nua pela rua,

Terça coloca uma faca na cinta-liga
Duas pulseiras largas no ante-braço
Sai a pé depois das dez e vira dona do pedaço

Quarta, escreve cartas e as entrega por conta própria
Encontro-te no meio de qualquer estrada
E vesga, lume no escuro da encruzilhada

Quinta acorda reluzindo, toma banho de mel
Marca 11 encontros , outorga 17 mortes
De noite rapta as virgens e faz que sangrem no céu

Sexta é sempre a mais bonita, no ar um cheiro de mar,
Abraça seu filho e lhe dá conselhos e asas,
Procura o mais belo dentro de todas as casas

Sábado é sempre soturna
veste-se de preto e se tranca no quarto
pensa enquanto cala, e tarde dorme numa urna

Domingo vai ao parque com a molecada
Desfaz-se de todos seus crimes
E numa pirueta tem de volta sua alma iluminada...




quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Eu Só Queria Ler um Livro



Quando eu era pequeno e lia um livro na varanda meu pai dizia
-Que livro menino vai surfar, olha o mar!
Eu ia surfar pensando no fim do livro e toda onda me engolia.
-Quando eu lia um livro no quarto e minha vó entrava ela dizia
-Guarda esse livro menino, vai jogar vídeo game.
Eu jogava vídeo game pensando no fim do livro e nunca ganhei jogo algum.
Quando eu passeava no shopping com minha mãe e queria entrar numa livraria ela dizia
-Que livraria menino, vamos ver aquela bermudinha ali!
Eu voltava pra casa com cinco bermudas, três camisetas dois óculos escuros pensando naquele livro da vitrine e esquecia as roupas na sala.
Numa viagem se eu estivesse lendo um livro, meu irmão falava
-Larga esse livro seu nerd, vamos brincar de cuspir pela janela!
Eu cuspia pensando no livro e melava toda porta do carro.
-Se eu lesse um livro no banheiro, minha irmã batia
-Larga esse livro pivete, vem jogar xadrez!
Eu ia jogar pensando no livro e sempre perdia.

Quando enfim cresci e ganhei o prêmio Nobel de literatura recebi uma carta
“Que bosta de prêmio heim menino, está deserdado. Vergonha da família!”.

terça-feira, 31 de julho de 2007

Poesia

Ah esse mundo....
Cheio de armadilhas
Armas frias
Dias quentes
Almas vazias
Quartos fechados
Hipocrisia
Que é poesia?
Cantar ao vento?
Triste lamento?
Ilusão de ser poeta?
Blasfêmia!

Poesia tem essa apologia
Essa rima
Esse ritmo
Som de foles
Aroma de flor
Poesia
Bah!

Prefiro o alvo certeiro
A palavra ousada
Sem escapes...

Firo-me com o espinho dessa rosa
Um viva à PROSA!!!

(Vivian Guilhem)

sábado, 28 de julho de 2007

Fragmentos da Menina da Lancheirinha


Kardex...


Fiz um roteiro maluco, com certeza havia algum melhor, pegamos o trem em Paris para Le Mans (sim, a cidade das mil milhas) e depois mais um até Avranches, a cidade que nos disseram ficar mais próxima de Saint Michel.
O trem para Normandia não era em nada parecido com um TGV, rastejava lento como a paisagem, ao longe começaram a aparecer as primeiras casinhas típicas da Normandia, via as vilinhas gaulesas de “Asterix” que eu tanto amava, e numa elucubração imaginei “Kardex” ainda como druida divagando com “Panoramix” numa floresta:

-Um dia numa outra encarnação vou criar um nova religião...
-O que é religião?
-É fazer o povo acreditar, ter uma meta, algumas regras, fazer o bem...Acreditar em Cristo.
-Quem?
-Jesus; ainda não nasceu...
-Você quer alguma poção para febre? Logo ali há um carvalho.
-Por quê? Acha que estou maluco?Tenho visões!
-Acredito em suas visões, não acredito em intermediários entre homens e Deuses.É isso que me parece esse sistema que chama de religião.
-Hora, não somos mais ou menos isso?
-Claro que não, só conduzimos os ritos, os homens observam a natureza e de acordo com ela, a de fora e a de dentro, convocam os Deuses e procedem de acordo com sua ética, e assim dependendo de sua conduta, podem tornar-se um deles ou não. É nisso que acreditamos...
-Me parece desregrado demais..
-A tempestade avisa quando vai derrubar nossas casas? Os campos não nos surpreendem com boas ou más colheitas?
-Sim, por isso para trazer paz ao homem e não deixa-lo a mercê da natureza é que devemos protegê-lo...
-Se o homem fugir da Natureza que está fora, e não sofrer suas intempéries jamais vai saber cuidar de sua Natureza interior, mas não se ofenda com minhas palavras, também tenho minhas visões, em breve virão os romanos “reformados” e nos forçarão a transformar nossos Deuses em um. Deve ser este ao qual você se remete.
-Acha que devo fugir do meu destino?
-Não, mas tente ser uma pouco diferente, se é que me entende..

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Quem?


Entrei
Máquina do tempo
Templário loiro
Vi nos braços meus
Eu
Cigana escura
Vestido azul
Corpos nus
Adeus pela manhã
Ciganinha ruiva
espreitando
Nunca notei
Guerreiro partiu
Nunca voltou
Morri
Ciganinha chorou
E mais ninguém
Afinal
Você é quem?

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Tateando Paredes



Acordei tateando paredes
Porta do banheiro cadê
Interruptor cadê
Apenas eu e paredes
Labirínticas, anímicas...
Riram de mim,
Jogavam-me de um lado para outro
Quis gritar
Gesso, tinta, tijolos.
Calaram minha voz
Estava presa entre paredes
Nós de um marinheiro algoz

Paredes cerebrais
Estava dentro de mim mesma
Oi trapezista
Oi malabarista bipolar
Oi interno lar

Quero sair daqui
Falei
Saia
Falaram
Os anões me empurraram
Pelo buraco do ouvido
Sai de mim, enfim...
Vi a porta do banheiro,
E o interruptor
Luz! E consciência
Em breve estarei de novo
Entre as paredes psicodélicas
Feitas de massa cerebral
Para sempre
Meu itinerante,
Errante
Umbral...

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Hipocritacriptamente

Ai Neruda, Florbela, ai Vinícius...Ai!
Não me levem a mal
Mas poesias de amor já embrejou faz uma cara
Passo mal...

Ó meu amor, que saudades tuas!
Ah, quantos dissabores nessa vida!
Onde estarás tu na noite escura?

Nossa que prefiro o buo da coruja...

Amor é amor e sobre ele tudo já foi dito
Que é lindo, que é dor, que é divino...
Que nos mata, nos revive...
Até eu hipocritacriptamente,
‘Inda escrevo sobre essa sandice
Demente...Mas olhe que meu verso mente...
Ou inventa, pra escrever de outro jeito...
O tantas vezes, melhor dito
Amor maldito!

Ai Pessoa, Bilac, ai!
Ai pior; poetas suicidas!
Morrer de amor, nomelocreo...
Tanto mel enjoa...
E eu que ainda tô nessa
Faço agora uma promessa
Poemas de amor nunca mais
Talvez um ou outro...
Capaz...

sábado, 21 de julho de 2007

Fragmentos da Menina da Lancheirinha



-Mamãe o que são górgonas?

Não tive a resposta num decreto, falei da relação com as gárgulas das catedrais que se mostravam monstruosas para afastar o mal. Não convenci nem a mim, e hoje precisei ver isso mais a fundo.

Giuliano explicou pra mim através de uma pergunta a conexão da minha “miopia” com o ser que eu era.
Minha “miopia” impediu que visse as górgonas da minha infância...Essas guardiãs do inconsciente que fazem de seu aspecto tenebroso, um aviso que ainda é cedo para entrar no reino interior e enxergar seu horrores, eu entrei muito cedo sem perceber, talvez não visse coisas tão medonhas assim, ou via e me adequava sem muito medo, por isso é tão difícil pra eu equacionar esses dois mundos. Sempre se intercalavam naturalmente...
Por isso tanta fantasia, por isso a coragem, por isso a falta de limites...

Por isso; eu...

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Bolinha de Borracha



A estrela sumiu
Faz muito tempo
Senti tanto sua falta
Morri um pouco no vácuo
Faltou ar, faltou água.
O chão sumiu,
Desanimação suspensa
Fiquei presa em Cronos
Anos...anos

Nesse tempo
Uma bolinha de borracha
Bateu na minha testa
A tal da testa aberta...
Entrou
Como tudo ali sempre entra
Ficou
Trapeziou
Me deslocou
Me entreteu

Foi então
Que a estrela, quem diria.
Apareceu
Voltou pra mim
E eu pra ela
Toda animada

Gira mundo
Mente gira
Gira estrela
Pula bola
Estrela na mão
Não quero mais
Entendi...
Sonhos racham
A estrela me consome
E eu só consigo pensar
Na bolinha de borracha

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Folha em Branco




Ando
Folha em branco
A mente escura
Tateando o nada
Cadê a fechadura?

A chave onde está?
Não há.
Perdi, aqui, ali,
Em algum caminho que segui
Ou não segui...

Rolha que não sai
Do gargalo do pensamento
Palavras apodrecem
Em ilegível lamento

Sílabas selvagens
Onde estão?
E aquelas conexões?
Reflexões corrosivas
Estarão vivas?

Viver é inventar
Frases no papel
Como flores num jardim
Frases cheias de espinhos
Espinhos que habitam em mim...

Onde estão as letras
E das letras, suas frases?
E das frases a prosa sônica?
A prosa; aquela rosa...
Cheia de versos-pétálas
Métrica perfumada
Regada com água tinta
Trôpega ou ritmada?

Meu jardim
De folhas rabiscadas
Seco de mim...

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Jacaré dá

Um pé
De jacarandá
Jacaré dá

De menina via ovos
Balançando nos galhos
Da árvore do meu pomar
Crescida ao lado do rio

Primavera despertou
Ovinhos quebraram
Cascas sobre mim
Jacarezinhos no meu jardim

Queria guardar todos
Dentro de um bercinho
Nas meninas fiz lacinhos
Pros meninos comprei bola

Mas era o rio que eles queriam
E assim os fui perdendo
Os filhos meus, pequeninos
Nas águas partiram de mim

Foi quando peguei o machado
E jacarandá cortei
Tronco morto, virou jacaré
Que ali mesmo me engoliu

Fui dentro dele pelo rio
Jacarezando e rezando
Virei o que ele era, ele...Eu.
E sumi de mim pra sempre
Na primeira curva que apareceu...

Um pé
De jacarandá
Jacaré dá

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Em Cada Pedaço de Ti


Em cada pedaço de ti, habita um ídolo meu.

Nos pés de dançarina, entre o lastro e o suspende.
Sangra Lorca iluminado por seu terrível duende

Nas pernas longas e brancas, pontes do Himalaia.
Mira dançante, arrogante, intrépida tribo de Gaia.

Nas grutas escuras, puras, de sua púbis...
Sinto de Afrodite, o perfume embriagante!
Escravo incauto sigo adiante...

No ventre claro, e macio...
Vislumbro, Rosa’s
E a terceira margem do rio

No horizonte de seus seios
Que os xavantes guardam com receio
Escalo à marcha leve o roncado.
Encontro Fawcett, e seu Eldorado.

Nos ombros largos e precisos
Descanso entre Narcisos
E um Eco se faz aflito
Quando por seu corpo, eu grito!

Ah, pescoço de gueixa!
Quantas tentações nessas areias
Escalo dando-me a elas
Todos despudores de Sereia...

Boca desenhada por Doré
Entre estribilhos de Bach
E navegando neste barco
Caronte me leva soturno
Para o vinho de Baco

Nariz de ninfa rodeado,
Por uma ciranda de fadas-sardas
Farol da mais linda visão
Olhos de mar...
Azul Polar.

Em cada pedaço de ti, habita um ídolo meu
Cabelos rubros, selva de pocahontas
Nas mãos ciganas,
Minhas sílabas profanas
Os braços Kalicos
Seguram todos meus sonhos
Mágicos, tolos, anárquicos...

Em cada pedaço de ti, habita um ídolo meu.
E em mim por ti habita
O fogo de Prometeu.